sexta-feira, 8 de junho de 2012

Educação para todos!


O que podemos fazer para alavancar a educação brasileira?

Para responder a essa questão, antes temos que elencar os principais problemas que causaram, nas últimas décadas, a decadência do ensino público no Brasil, que vão desde a Educação Infantil até a Universidade, não necessariamente nessa ordem. Na verdade os problemas transpassam de um nível de ensino para outro simultaneamente, pois: só profissionais bem formados podem oferecer um serviço de qualidade; e serviços de qualidade só podem ser oferecidos por profissionais bem formados. Pode parecer uma redundância, mas esse é um ciclo que, no Brasil, tem girado na direção oposta.


OS PROBLEMAS

Expansão de vagas sem manutenção da qualidade
A expansão do ensino público, garantida pela Constituição de 88, foi um grande marco da educação brasileira, pois até então o ensino era privilégio de poucos. Com a nova constituição, os pobres enfim tiveram o acesso à escola, porém isso não significou o acesso ao conhecimento.
Desde a democratização do ensino este vem sofrendo uma queda quase que vertical em relação à qualidade.
Sem dúvida o ensino é um direito de todos, mas com qualidade, a simples oferta de vagas não garante a formação de um povo capaz de exercer plenamente sua cidadania.


Promoção automática
Os serviços públicos no Brasil sempre deixam de ser oferecidos da forma ideal devido aos altos custos (e ainda tem a corrupção, que torna tudo mais oneroso aos cofres públicos), com a educação isso não é diferente. A democratização do ensino fez crescer muito o número de alunos nas escolas, com isso cresceram também os custos, a diversidade de crianças e as dificuldades para ensinar.
Até que na década de 90, numa tentativa única e exclusiva de redução do custo gerado por cada aluno aos cofres públicos, o governo lança uma forma de acabar com o fracasso escolar, a milagrosa progressão continuada, que na teoria prevê respeito à individualidade de cada aluno, mas na prática significa promoção automática. É mais ou menos assim: o governo oferece escola para todos, mas se você tiver alguma dificuldade pelo caminho, problema seu, vá se arrastando que lá no final do ciclo (geralmente de 4 anos) você tem um ano para resolver esses problemas.
Imagine um aluno que apresentada dificuldade no primeiro ano desse ciclo, ele precisará se arrastar por mais três anos para ter uma chance de se recuperar. Pergunto: Duzentos dias letivos são suficientes para sanar as dificuldades de aprendizagem acumuladas por 4 anos? Isso é acabar com o fracasso escolar? Pode até mascarar o fracasso da escola, mas e o aluno, o ser humano que não tem a chance de se recuperar no tempo e na série adequados às suas necessidades? Assim é a progressão continuada: uma forma de iludir alunos, pais e toda a sociedade em nome de uma economia burra e que “emburrece” o cidadão.


Desvalorização, desmoralização e formação dos professores
Mas a progressão continuada adotada em muitos estados brasileiros e em inúmeros municípios não é a única vilã do desastre educacional brasileiro. Durante esse período além do aluno, os professores também sofreram demasiadamente com as políticas educacionais brasileiras.
A desvalorização e desmoralização dos professores acabaram por afastar desta profissão as mentes brilhantes (salvo raras exceções), fundamentais à prestação de um serviço de qualidade. Os baixos salários e condições precárias de trabalho fazem com que bons professores invistam na carreira acadêmica, na elaboração de teorias, às vezes mirabolantes, sem nunca terem enfrentado uma sala de aula, a realidade diária de uma escola. Seguindo o curso natural, são esses acadêmicos, sem nenhuma experiência com a educação básica que lecionam aos futuros pedagogos. Seguindo um pouco mais, esses pedagogos se deparam com uma realidade totalmente diferente das teorias que aprendeu na faculdade.
Não, os problemas ainda não acabaram. Os salários vergonhosos fazem com que os aspirantes a pedagogos sejam cada vez menos preparados, menos cultos, menos instruídos. O que tem uma relação direta com a ineficácia do ensino básico. Ou seja, se o ensino básico fosse bom, formaria profissionais capacitados, não só na área da educação, mas em todos os campos profissionais.
Outra questão que atrapalhou, principalmente, a Educação Infantil e o Ensino Fundamental I foi a extinção da formação de professores em nível médio, o magistério. O curso em nível médio oferecia uma ênfase muito maior na prática que nas teorias, que são sim importantes, mas só se atreladas à prática; a faixa etária dos alunos (15 a 18 anos) favorecia a prática dos estágios, pois nesta idade a maioria dos estudantes dedica seu tempo exclusivamente aos estudos. Hoje os cursos de Pedagogia são, em maioria, no período noturno, pois os alunos, já numa faixa etária que se inicia aos 18 anos, trabalham durante o dia, o que prejudica a prática dos estágios, quesito essencial para o sincronismo entre a teoria e a prática.


Elevado número de alunos por turma
Além da progressão continuada, da desvalorização dos profissionais da educação e da má formação profissional dos futuros professores, existe outra grande pedra que aperta o sapato da educação brasileira, o elevado número de alunos nas salas de aula. Hoje as salas de aula têm em média 35 alunos. Destes, vários com grandes dificuldades de aprendizagem, de origens variadas, desde a defasagem pedagógica até sérias patologias. Além disso, há também questões sociais e comportamentais. Diante desse cenário visivelmente caótico, querem que o professor resolva tudo. E pior, estes, muitas vezes, se acham na obrigação de resolver tudo. O que obviamente não acontece; e se frustram.
Essa frustração dá origem a uma série de transtornos que vão se acumulando, causando sérias consequências emocionais, psicológicas e até mesmo patológicas, como a síndrome de burnout, por exemplo. Essas “doenças” geram outro grave problema para a manutenção da qualidade da aprendizagem, as faltas excessivas de professores.


Falta de respaldo de profissionais de outras áreas para atuarem na educação, auxiliando o professor nas questões que fogem da alçada pedagógica.
Como já mencionado anteriormente, a democratização do ensino trouxe para a escola uma grande diversidade em relação aos alunos e às dificuldades de aprendizagem. No entanto, muitas destas dificuldades estão fora do campo de atuação do professor, pois não envolvem apenas questões pedagógicas, mas também patológicas, fonoaudiológicas, psicológicas, comportamentais e sociais. Esses atendimentos até são oferecidos, mas de forma precária, incapaz de suprir toda a demanda.

Estagnação tecnológica
Mais um e não menos preocupante dos problemas que envolvem o sistema educacional brasileiro é a estagnação tecnológica das escolas públicas. Apesar de haverem programas do governo que tentam levar o mínimo de tecnologia para as unidades escolares, quando essas chegam às escolas, além de já estarem ultrapassadas, ainda enfrentam, mais uma vez, a falta de formação dos professores, que muitas vezes não estão preparados para utilizá-las em favor do ensino.
Salvo raras exceções, as escolas, ainda hoje, têm como principal material pedagógico a lousa e o giz, como há 50 anos. Compare uma agência bancária de 50 anos atrás com uma atual, as mudanças são gigantescas. Agora imagine uma escola de 50 anos atrás e uma atual, as mudanças existem, mas são muito sutis. Acontece que os alunos de hoje mudaram tanto quanto as agências bancárias.


Conclusão
No meu ponto de vista, resumidamente, esses são os principais problemas[1] da educação brasileira:
  • Expansão de vagas sem manutenção da qualidade;
  • Promoção automática;
  • Desvalorização e desmoralização do professor;
  • Falta de condições adequadas de trabalho;
  • Formação dos professores;
  • Elevado número de alunos por turma;
  • Falta de respaldo de profissionais de outras áreas para atuarem na educação, auxiliando o professor nas questões que fogem da alçada pedagógica;
  • Estagnação tecnológica.
Agora vem a parte complicada, depois de décadas de decadência o que fazer para reverter essa situação?
Para começar é impossível recuperar o tempo perdido, os alunos que passaram e estão passando por esse ensino decadente, sofrerão, para sempre, as conseqüências; e a sociedade também.
Em minha opinião o que deve ser pensado, é como fazer a educação voltar a crescer daqui para frente.
A manutenção da qualidade do ensino para todos está intimamente ligada à formação de bons profissionais; para atrair bons profissionais é preciso valorizar e oferecer condições adequadas para que estes possam desempenhar seu trabalho. Parece simples, mas não é. Tudo isso forma uma rede de fatores que para serem implantados precisam de algumas condições que (também por culpa da falta de um bom ensino) passam por mãos pouco interessadas em mudar essa realidade, são elas: vontade política, planejamento e investimento.
Algumas melhoras têm sido vistas em algumas regiões, mas elas estão longe de serem mérito das políticas públicas, são sim mérito da consciência de muitos profissionais que dedicam sua vida a melhorar, através do conhecimento e da cultura, a vida de muitos cidadãos.
Acontece que esses profissionais estão sendo extintos. Não só esses, os professores, de forma geral (os bons e os ruins) estão em extinção, a ponto de o governo lançar campanhas publicitárias e facilitar a oferta de vagas para as graduações em licenciatura, como por exemplo: abrir mão de fiador para os estudantes do curso de licenciatura junto ao FIES. Mas o salário... oh!
Muitos dirão que estou sendo radical, tendenciosa, etc... Mas estou apenas relatando a triste realidade nua e crua, como deve ser. Impossível traçar metas realmente alcançáveis sem despir todos os problemas para enfrentá-los de frente e resolvê-los definitivamente.
As questões que me vêm diante deste relato são: Há interesse político em oferecer às massas uma vasta gama de conhecimento, para que tenham as armas necessárias para exercerem, de forma plena, sua cidadania??? Ou será mais cômodo oferecer “bolsa esmola” e manter a população dependente dessa politicazinha assistencialista???
Essas perguntas não estão direcionadas apenas aos políticos que receberam da massa o poder de decidir o que é melhor para o povo, mas também aos cidadãos que delegaram o poder. O povo quer ter acesso a essas armas e mudar a história, ou quer continuar dependendo do assistencialismo político do governo???
As respostas a essas perguntas serão o norte para o inicio do processo de revitalização da educação brasileira.


[1] A cada um desses itens cabe um estudo mais detalhado, pois são distintos e envolvem inúmeros subitens. O breve relato que segue é de forma generalizada.

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